Você certamente já ouviu a expressão “Quem planta vento colhe tempestade“. Mas sabia que ela tem origem bíblica?
Ela remonta pelo menos ao século VIII antes de Cristo e vem do livro do profeta Oseias:
“Visto que semearam ventos, colherão tempestades; não terão sequer uma espiga, e o grão não dará farinha; e, mesmo que a desse, seria comida pelos estrangeiros” (Oseias 8, 7)
As palavras de Oseias guardam relação com as de São Paulo: “O que o homem semeia, isso mesmo colherá” (Gálatas 6, 7), ou com as de Jó: “Os que praticam a iniquidade e os que semeiam sofrimento também os colhem” (Jó 4, 8).
O significado
A referência a sementes e cultivos, tão comum na Bíblia, nos lembra que a vida agrícola fazia parte do cotidiano do povo hebreu. Além disso, há nelas um sentido metafórico: Oseias denuncia a decadência do Reino de Israel, que se afastou de Deus e praticou a adoração de ídolos. Em resposta a essa idolatria (o “vento” mencionado na expressão) e à traição da aliança com Deus, o profeta previu a “tempestade”, isto é, a devastação do país e o exílio na Babilônia.
A originalidade do Livro de Oseias vem dos paralelos entre a situação conjugal do narrador e o pacto entre Deus e o povo de Israel.
Deus pediu a Oseias que se casasse com uma prostituta chamada Gomer. Oseias ama sua esposa, mas Gomer o engana e continua a se envolver em prostituição, o que, simbolicamente, é comparado à idolatria. A ruptura entre os cônjuges, como aquela entre Deus e seu povo, parece consumada e a Aliança definitivamente quebrada. Deus também pede a Oseias que assim nomeie seus filhos: o mais velho, Jezrael (“Deus semeia“); a filha, Lo-Ruhama (“Não-Amada“); e o caçula, Lo-Ami (“Não-Meu-Povo“).
Toda a decepção, tristeza e raiva manifestadas por Oseias, ferido em seu amor, são as mesmas de Deus pelo comportamento do povo hebreu: “Ela não é mais minha esposa e eu não sou mais seu marido!” (cf. Os 2, 4).
Apesar da traição de Gomer e das suas infidelidades, porém, Oseias ainda a ama e a perdoa. Da mesma forma, Deus ama o seu povo com amor ardente e está sempre pronto a perdoá-lo:
“Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração, porque minha cólera apartou-se deles. Serei para Israel como o orvalho; ele florescerá como o lírio e lançará raízes como o álamo” (Os 14, 4-5).
E é com a renovação de uma linda promessa de amor que termina o Livro de Oseias. A Aliança é uma relação de amor, um amor sem limites e mais forte que tudo.
Semeemos, pois, amor em vez de vento, e colhamos graça em vez de tempestade!